sexta-feira, 31 de outubro de 2014

Cain, S. (2012) O poder dos quietos. Rio de Janeiro: Agir.

Susan Cain - O poder dos quietosSusan Cain - O poder dos quietos.
            Hoje falarei de algumas partes do livro acima mencionado. Livro esse de fácil e agradável leitura, pois a autora fala de forma clara e direta, por meio, muita vezes, de exemplos pessoais. Essa forma de narrar acaba por nos prender e nos identificar com seu texto.
            Logo na introdução: o norte e o sul do temperamento, a autora dá como exemplo um dos marcos mais emblemáticos dos movimentos civis nos Estados Unidos da América, o exemplo de Rosa Parks,uma mulher negra, em janeiro de 1955, quando se recusa a dar assento a um homem branco no onibus Rosa Parks foi presa. Julgada por atentado a ordem pública o que desencadeou um gigantesco boicote aos onibus que durou 381 dias, além do apoio de mais de cinco mil pessoas na Associação para o Desenvolvimento de Montgomery, que promoveu o protesto a favor de Rosa Parks na Igreja batista de Hold Street, parte pobre da cidade. Mas do lado de fora da igreja ainda tinham muitas pessoas ouvindo o reverendo Martin Luther King Jr. que falou a multidão de forma empolgante, elogiando a coragem de Rosa. Presa devido às leis da época que diziam que uma pessoa negra deveria ceder assento a um branco quando "solicitado" nos onibus. Esse primeiro exemplo é muito rico para a análise que se desenvolve a partir dele e, mostra que uma pessoa dita "sossegada e quieta" ao lado de outra de fala eloquente e extrovertida, juntas num mesmo movimento ou momento. A autora fala que mesmo uma pessoa quieta pode desencadear um movimento tão forte, com a ajuda de um grande orador e, mostra também a situação inversa, onde o grande orador precisou desta pessoa introvertida, ou seja, elas se complementaram.
            Susan Cain, chama atenção para ao adjetivos empregados na descrição de Rosa Parks, tanto em sua alto biografia, quanto em outros documentos. Cain se questiona sobre o fato de uma pessoas ser ao mesmo tempo tímida e corajosa, ou "uma força silenciosa". Bem, essa introdução sobre o tipo de pessoa "quieta" que foi Rosa Park, serve de introdução para a autora falar daquilo que em sua obra são os pontos altos da personalidade humana: introversão e extroversão. Como visto no titulo da obra os ditos quietos receberam grande atenção e são o maior, mas não o único, objeto de estudo da autora. As pessoas ditas quietas são analisadas em sua narrativa sob um olhar de: pessoas que conquistam ou conquistaram coisas não "apesar de", mas por "causa de" sua introversão. O tempo presente se ganha vida no seu texto quando desenha um retrato da sociedade atual que supervaloriza, segundo seu livro, pessoas tidas como extrovertidas, deixando ou relegando as demais introvertidas, ou forçando-as à mudanças abruptas. Tais mudanças dar-se- iam por exemplo por meio de programas televisivos onde certos tipos estereotipados como extrovertidos são representados em grande parte da parte dos programas de grandes emissoras. Outro adendo muito bem observado pela autora é o estimulo dessa introversão nas escolas e no trabalho, de forma geral a principio, sendo que no primeiro caso seriam os extrovertidos estudantes tidos como ideais e no segundo teríamos trabalhadores ideais. Todavia a autora vai mostrando que esses argumentos são falhos e excludentes, segundo seu obra mostra, pessoas tidas como introvertidas cooperam com o todo à sua maneira e tempo, mas vivem num mundo onde é cada vez mais perceptível "o ideal de extroversão". Para dar maior ênfase a trabalho a autora se apóia nos tipos psicológicos estabelecidos na obra: tipos psicológicos, do psicoterapeuta e psiquiatra suíço Carl Jung. Jung popularizou os termos "introvertido e extrovertido", como pilares centrais da personalidade. Outro ponto defendido pela autora é o de que Introversão é diferente de timidez, sendo assim, uma pessoa introvertida não é necessariamente tímida. Essa relação pode ser explicada da seguinte maneira: "Timidez é o medo da desaprovação social e da humilhação, enquanto a introversão é a preferência por ambientes que não sejam estimulantes demais", a autora nos dá um montante de nomes de pessoas de grande destaque social em diversas áreas do conhecimento que eram introvertidas, pelo menos não totalmente, ou como, falou Jung: não eram pessoas sem extremos de introversão e extroversão. E segundo a autora essas pessoas tem o melhor dos dois mundos, essas pessoas são chamadas na obra de pessoas ambivalente!
            Como é ser introvertido dentro de um/a mundo/sociedade onde a colaboração  tornou-se um conceito quase sagrado, principalmente depois do advento da internet e dos modelos de trabalho corporativo ? Essa é uma das questões propostas em meio a tantas outras no texto, que se alternam mostrando- nos de forma ampla e variada, os aspectos onde extroversão e introversão encaixando-se em nossas vidas. Um bom exemplo no texto de como o excesso de estimulo pode atrapalhar são os modelos de escritório aberto, mostrados e debatidos no texto como sendo o modelo preferido de grandes empresas para melhor "estimular" sue empregados a produzir, tendo por vezes o efeito contrario. Todavia, passamos a valorizar de forma demasiada o poder da colaboração ou trabalho em grupo em vez do trabalho individual. Sendo assim a autora nos mostra que devemos mesclar nossas interações, criando ambientes/cenários onde as possamos nos sentir livres para circular, um caso que se aplicaria bem às grandes empresas.
            Na seqüência de sua narrativa a autora dá mais exemplos pessoais , questionando-se a respeito do advento do temperamento, ou seja, seria o temperamento determinado pelo destino? E essa parte mostra-nos, uma vez mais, que essa é uma obra pessoal. Para apoiar o capitulo a autora apoiou-se em Jerome Kegan, especialista em psicologia do desenvolvimento, onde temos: natureza versus criação no trabalho de J. Kegan. Esse autor trabalhou os padrões  comportamentais emocionais mesmo em lactantes jovens, para saber sua classificação dentro de inibidos ou não. Outros temas, como dito anteriormente, foram levantados no texto, tais como: As origens biológicas do comportamento humano e se as características são  condicionadas ou não?. A autora mostra que os estudos sobre seu tem não são deterministas ou conclusivos, mas ajudam a compreender um pouco mais a introversão e extroversão, assim como outros importantes traços da personalidade como a amabilidade e a consciência.
            Bem, a obra é muito bem escrita e gostei da abordagem que se deu para tratar de introversão e extroversão, principalmente porque a autora é muito corajosa ao se expor, deixarei alguns vídeos onde a autora fala de seu livro de forma muito riqueza em detalhes, mostrando- nos toda a obra. Além de outros vídeos com a participação do Professor J. Kagan. E para finalizar meu texto, gostaria que assistissem à palestra que deixarei a respeito da obra, para que melhor possam interagir com a mesma, pois ela deixa bem clara que não se explica mais as coisas, introversão e extroversão, com indicações extremas e precisas de cada individuo. Avalia ainda a autora que, ainda, existem aqueles com o melhor dos dois mundos. Ou seja, pessoas não tem em si um "pureza", mas sim misturas que talvez não se meça de forma tão precisa como se pretende hoje em dia.
Seguindo o fim da palestra da autora deixo aqui uma parte de sua fala:
1° Não trabalhe em grupo com tanta frequência, procure suas próprias idéias.
2° Seja mais introspectivo.
3° Olhe para sua bagagem de vida e vejam o que carregam.

sábado, 25 de outubro de 2014

FREUD, Sigmund. (1917 [1915]). Luto e melancolia. In: FREUD, Sigmund. Obras Completas. v. 14. Rio de Janeiro: imago Editora, 1969.

FREUD, Sigmund. (1917 [1915]). Luto e melancolia. In: FREUD, Sigmund. Obras Completas. v. 14. Rio de Janeiro: imago Editora, 1969.

           
            Hoje tenho a difícil e grata missão de fazer a exposição do texto acima mencionado. Digo grata missão porque trabalhamos aqui com alguém que se atreveu a pensar, literalmente, fora dos padrões médicos de sua época, além de sido alguém aberto a interdisciplinaridade, tendo trabalhado fora da margem social à época de tal pesquisa e sem medo de se expor. O texto em si apresenta uma linguagem muito técnica o que pode dificultar a leitura do mesmo em parte, todavia a mão do autor também ajuda na compreensão da redação, pois descreve todas as situações com muito exemplos, que por vezes tornam enfadonha a leitura. Chamo atenção dos leitores para o tempo verbal da redação de Freud e seus exemplos delongados do estudo, pois podemos incorrer em anacronismo se esquecermos que a obra trata de uma nova forma de avaliar e investigar o homem e carece ou careceu à época de grande detalhamento. Outro ponto importante é o tempo verbal, pois é um texto sempre "presente" e em muitas passagens, ou em todo o texto, somos puxados e, não convidados, a fazer uma introspecção sobre o "eu" ou sobre alguém conhecido, aplicando os pontos elaborados no texto.
            Concluída essa pequena introdução passemos ao texto, onde tentarei ser sucinto, sem diminuir o texto, afim de mostrar os principais pontos do mesmo. O ponto de partida para Luto e melancolia foi o esforço de sair ou transcender de uma leitura estritamente médica para algo novo. Tal novidade pode ser compreendida como Linguagens ou conceitos que não encontramos no corpo ou na mente das pessoas, todavia pode- se trabalhar nesse texto com a limitação/extensão para entender a discrepância entre luto e melancolia.  O trabalho apresentado no texto foi o de tentar entender a temática da qual provém o luto e a melancolia, todavia, informa o inicio do texto que: "Melancolia tem um conceito oscilante. Uma síntese não parece segura em tão pouco espaço de tempo e páginas, contudo o material analisado limitou-se a um pequeno número de casos, cuja a natureza psícogena é indubitável". E já adiantando o final da redação, diz o autor: "A profundidade dos problemas psíquicos nos obriga a interromper sem concluir cada investigação, até que os resultados de outra possam vir em seu auxílio". Bem, fiz logo essa ressalva porque tenho certeza de que não é o fim do texto que nos interessa, por assim dizer, mas os meios de observação da pesquisa, seu contexto e a abordagem extra convencional.
            Feita essa ressalva o autor apresenta a definição de luto, suas relações com o objeto de amor perdido e a formo como nos relacionamos com esse luto e o entendemos. Dentro do escrito luto é a reação a perda de uma pessoa querida ou de uma abstração que esteja no lugar dela, como pátria, liberdade, ideal etc. Ao passo que a melancolia caracterizar-se- ia por: "um desânimo profundamente doloroso, uma suspensão do interesse pelo mundo externo, perda da capacidade de amar, inibição de toda atividade e um rebaixamento do sentimento de toda autoestima, que se expressa em auto-recriminarão e autoinsultos, chegando até a expectativa delirante de punição". Luto se difere de Melancolia, em primeira instância, penas por uma detalhe a melancolia carrega em si perturbações de auto estima, digo em primeira porque ao longo do texto outras formas de distinção aparecem. Como mencionado acima, buscou-se esclarecer a melancolia na sua essência comparando-a com o afeto normal luto. E dentro desta ótica o luto esbarra na dificuldade do homem em abandonar o libido pelo objeto, lembrando que tal libido se apresenta nos homens de várias formas. O objeto amado perdido é motivo de luto, entretanto, com o tempo o normal é que vença a realidade da perca física do objeto, bem pouco a pouco o homem conclui o seu luto e o libido é liberado para ser investido novamente em outro objeto.
            A partir dai o autor nos convida à aplicar a visão/o que sabemos, até então, sobre luto afim de termos uma comparação com a melancolia. Sendo assim apresentam-se alguns paralelos: o primeiro é que constata- se que melancolia pode advir da perca do objeto amado, entretanto, esse objeto pode ser uma perca mais "ideal que física", ou seja, não está morto, só deixou de ser ideal e se perdeu como objeto. Aqui nesse ponto o autor mostra uma analogia mais simplificada, digamos assim: O luto e a melancolia estabelecer-se- iam nas mesmas vias de regra, entretanto a melancolia não retira o libido do objeto e o deposita em outro. O autor fala que o melancólico segue outro caminho ou caminhos. Outra característica melancólica é o rebaixamento de alto estima... No luto o mundo se tornou pobre e vazio; na melancolia o próprio ego tornou- se assim. Tudo isso para mostrar  que o luto opera com percas de algo, em minhas palavras, mais palpável e concreto e a melancolia trabalha com objetos mais idealizados que palpáveis por assim dizer.
            Sem querer reduzir o texto, mas é necessário para facilitar a leitura de quem ainda não teve contato com o texto integral, que eu faça aqui uma distinção um pouco grosseira com está feita logo acima: onde o luto opera entre algo deverás perdido e que o homem aceita, numa situação tida como normal, pouco a pouco a perca do objeto amado, colocando em outro local seu libido. E a relação estabelecida no texto entre a melancolia e o ego é muito rica, pois o ego, a meu ver, aparece como algo a ser constantemente alimentado pelo objeto idealizado, porém a melancolia pode surgir se tal alimentação não for propiciada ou se de forma abrupta o objeto "idealizado" pelo ego do individuo deixar de existir, em algum sentido ou grau. Ou seja, o objeto do melancólico pode ainda existir no mundo físico, mas não corresponder mais a ele , se é que um dia correspondeu.
            E para finalizar, gostaria de dizer que este é meu primeiro contato com um texto deste autor e foi uma leitura difícil e ainda é. Chamo mais uma vez sua atenção para a exposição de Freud nesse trabalho numa num local de fala regido pela medicina e seus remédios. É nesse cenário que desenvolve seus estudos, no limiar da sociedade do século XIX e inicio do século XX, ele aponta para outra direção que não é conhecida nem perceptível aos métodos convencionais de tratamento medicinal. E esse discurso reflete no  presente, onde o "eu" é confrontado pela nova perspectiva e direcionamento do texto e mostram: os limites sociais - os fármacos não curam tudo - Um homem interdisciplinar e que se atreveu a pensar diferente, onde a proporção ganha, me parece, nova dimensão, ela foge ao convencional e perpassa a sociedade e sua tênue linha de explicações médicas, para estudos do inconsciente e, por isso foi que eu disse no inicio do texto que o tempo verbal do texto nos é muito precioso.

 Obrigado pela companhia.