FREUD, Sigmund. (1917 [1915]). Luto
e melancolia. In: FREUD, Sigmund. Obras Completas. v. 14. Rio de Janeiro:
imago Editora, 1969.
Hoje
tenho a difícil e grata missão de fazer a exposição do texto acima mencionado.
Digo grata missão porque trabalhamos aqui com alguém que se atreveu a pensar,
literalmente, fora dos padrões médicos de sua época, além de sido alguém aberto
a interdisciplinaridade, tendo trabalhado fora da margem social à época de tal
pesquisa e sem medo de se expor. O texto em si apresenta uma linguagem muito
técnica o que pode dificultar a leitura do mesmo em parte, todavia a mão do
autor também ajuda na compreensão da redação, pois descreve todas as situações
com muito exemplos, que por vezes tornam enfadonha a leitura. Chamo atenção dos
leitores para o tempo verbal da redação de Freud e seus exemplos delongados do
estudo, pois podemos incorrer em anacronismo se esquecermos que a obra trata de
uma nova forma de avaliar e investigar o homem e carece ou careceu à época de
grande detalhamento. Outro ponto importante é o tempo verbal, pois é um texto
sempre "presente" e em muitas passagens, ou em todo o texto, somos
puxados e, não convidados, a fazer uma introspecção sobre o "eu" ou
sobre alguém conhecido, aplicando os pontos elaborados no texto.
Concluída
essa pequena introdução passemos ao texto, onde tentarei ser sucinto, sem
diminuir o texto, afim de mostrar os principais pontos do mesmo. O ponto de
partida para Luto e melancolia foi o esforço de sair ou transcender de uma
leitura estritamente médica para algo novo. Tal novidade pode ser compreendida
como Linguagens ou conceitos que não encontramos no corpo ou na mente das
pessoas, todavia pode- se trabalhar nesse texto com a limitação/extensão para
entender a discrepância entre luto e melancolia. O trabalho apresentado no texto foi o de
tentar entender a temática da qual provém o luto e a melancolia, todavia,
informa o inicio do texto que: "Melancolia tem um conceito oscilante. Uma
síntese não parece segura em tão pouco espaço de tempo e páginas, contudo o
material analisado limitou-se a um pequeno número de casos, cuja a natureza
psícogena é indubitável". E já adiantando o final da redação, diz o autor:
"A profundidade dos problemas psíquicos nos obriga a interromper sem
concluir cada investigação, até que os resultados de outra possam vir em seu
auxílio". Bem, fiz logo essa ressalva porque tenho certeza de que não é o
fim do texto que nos interessa, por assim dizer, mas os meios de observação da
pesquisa, seu contexto e a abordagem extra convencional.
Feita
essa ressalva o autor apresenta a definição de luto, suas relações com o objeto
de amor perdido e a formo como nos relacionamos com esse luto e o entendemos.
Dentro do escrito luto é a reação a perda de uma pessoa querida ou de uma
abstração que esteja no lugar dela, como pátria, liberdade, ideal etc. Ao passo
que a melancolia caracterizar-se- ia por: "um desânimo profundamente
doloroso, uma suspensão do interesse pelo mundo externo, perda da capacidade de
amar, inibição de toda atividade e um rebaixamento do sentimento de toda autoestima,
que se expressa em auto-recriminarão e autoinsultos, chegando até a expectativa
delirante de punição". Luto se difere de Melancolia, em primeira
instância, penas por uma detalhe a melancolia carrega em si perturbações de
auto estima, digo em primeira porque ao longo do texto outras formas de
distinção aparecem. Como mencionado acima, buscou-se esclarecer a melancolia na
sua essência comparando-a com o afeto normal luto. E dentro desta ótica o luto
esbarra na dificuldade do homem em abandonar o libido pelo objeto, lembrando
que tal libido se apresenta nos homens de várias formas. O objeto amado perdido
é motivo de luto, entretanto, com o tempo o normal é que vença a realidade da
perca física do objeto, bem pouco a pouco o homem conclui o seu luto e o libido
é liberado para ser investido novamente em outro objeto.
A
partir dai o autor nos convida à aplicar a visão/o que sabemos, até então, sobre
luto afim de termos uma comparação com a melancolia. Sendo assim apresentam-se
alguns paralelos: o primeiro é que constata- se que melancolia pode advir da
perca do objeto amado, entretanto, esse objeto pode ser uma perca mais
"ideal que física", ou seja, não está morto, só deixou de ser ideal e
se perdeu como objeto. Aqui nesse ponto o autor mostra uma analogia mais
simplificada, digamos assim: O luto e a melancolia estabelecer-se- iam nas
mesmas vias de regra, entretanto a melancolia não retira o libido do objeto e o
deposita em outro. O autor fala que o melancólico segue outro caminho ou
caminhos. Outra característica melancólica é o rebaixamento de alto estima...
No luto o mundo se tornou pobre e vazio; na melancolia o próprio ego tornou- se
assim. Tudo isso para mostrar que o luto
opera com percas de algo, em minhas palavras, mais palpável e concreto e a
melancolia trabalha com objetos mais idealizados que palpáveis por assim dizer.
Sem
querer reduzir o texto, mas é necessário para facilitar a leitura de quem ainda
não teve contato com o texto integral, que eu faça aqui uma distinção um pouco
grosseira com está feita logo acima: onde o luto opera entre algo deverás
perdido e que o homem aceita, numa situação tida como normal, pouco a pouco a
perca do objeto amado, colocando em outro local seu libido. E a relação
estabelecida no texto entre a melancolia e o ego é muito rica, pois o ego, a
meu ver, aparece como algo a ser constantemente alimentado pelo objeto
idealizado, porém a melancolia pode surgir se tal alimentação não for propiciada
ou se de forma abrupta o objeto "idealizado" pelo ego do individuo
deixar de existir, em algum sentido ou grau. Ou seja, o objeto do melancólico
pode ainda existir no mundo físico, mas não corresponder mais a ele , se é que
um dia correspondeu.
E
para finalizar, gostaria de dizer que este é meu primeiro contato com um texto
deste autor e foi uma leitura difícil e ainda é. Chamo mais uma vez sua atenção
para a exposição de Freud nesse trabalho numa num local de fala regido pela
medicina e seus remédios. É nesse cenário que desenvolve seus estudos, no
limiar da sociedade do século XIX e inicio do século XX, ele aponta para outra
direção que não é conhecida nem perceptível aos métodos convencionais de
tratamento medicinal. E esse discurso reflete no presente, onde o "eu" é confrontado
pela nova perspectiva e direcionamento do texto e mostram: os limites sociais -
os fármacos não curam tudo - Um homem interdisciplinar e que se atreveu a
pensar diferente, onde a proporção ganha, me parece, nova dimensão, ela foge ao
convencional e perpassa a sociedade e sua tênue linha de explicações médicas,
para estudos do inconsciente e, por isso foi que eu disse no inicio do texto
que o tempo verbal do texto nos é muito precioso.
Obrigado
pela companhia.
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